Mãos dadas na multidão
Aquela noite estava muito quente, na calçada passavam muitas pessoas, uma verdadeira multidão passeando no centro de Ubatuba - SP. Escolhemos uma mesa na calçada e nos sentamos para saborear uma pizza de frutos do mar na praia. Descanso para recarregar as baterias. No meio da rua um palhaço tirava “uma onda” nos carros que passavam, ele assobiava como um guarda de trânsito para pedir ao motorista parar o carro para ele subir no capô, com jeito para não amassar, ele subia e ia escorregando e espalhando gargalhadas pelo ar, enfim só palhaçada, o mar do outro lado da rua, e eu regozijava a maravilhosa sensação de estar ali.
De repente vi um rosto conhecido na multidão, sabe quando você vê uma pessoa e tem a nítida impressão que conhece de algum lugar? Assim. Primeiro vi o rosto dela, depois três crianças, de cabelinhos claros, alegres e saltitantes de mãos dadas com pai. Outro rosto conhecido.
Esse casal foi apresentado no início deste milênio, na época ele tinha 39 anos, morava em Bauru e mudou de cidade, transferido pela empresa que trabalhava, entrou na agência e revelou sua vontade de encontrar uma mulher solteira, sem filhos, independente, sincera, carinhosa e que também tivesse o desejo de se casar e ter filhos. Um era a tampa e o outro a panela. Tinham respostas parecidas na ficha de inscrição, mesma religião, mesmo grau de instrução, gostos e objetivos muito parecido. Começaram namorar no primeiro encontro.
Ficamos sabendo que haviam se casado e algum tempo depois teriam se mudado para São José do Rio Preto -SP e depois mais nada soubemos deste casal. Agora mais de uma década depois vejo que ele tinha ficado com os cabelos brancos e ela não mudou das fotos que vi o mesmo sorriso.
Minha vontade foi de levantar da mesa e dizer oi, mas como sempre me contive, só cutuquei o André e mostrei a ele a bela família. Fiquei observando cada movimento deles, uma imagem surreal, juntos andando de mãos dadas no meio da multidão, formando uma corrente invisível e invencível, ali caminhando em um lugar distante para eles e pra gente também.
Assim os vimos se afastando e confundindo pela multidão, neste momento ficamos muito felizes e apertamos nossas mãos entrelaçadas, mais um casal unidos por nós casamenteiros.